Comunicação em Tempos de Pandemia

Comunicação em Tempos de Pandemia

Supervivência

O ser humano está dependente da interação para a sua sobrevivência. Somos animais sociais e comunicativos que foram desenvolvendo novas formas de se entender para esse propósito, e haverão ainda mais no futuro. Chegámos a este ponto da nossa civilização graças ao medo, à morte, ao querermos um refúgio do perigo.
O desejo de viver é muito forte, porém nem damos conta dele no nosso dia-a-dia. Afinal, estamos bem, não vivemos com um sentimento de ameaça iminente.
O COVID-19 trouxe o véu da mortalidade às nossas vidas e toda a gente quer tirá-lo de cima. Mas não foi de imediato.

Com o estado de emergência a partir de 18 de março em Portugal, e o país a observar outras nações gravemente afetadas como a Itália, algo tão perto de nós, as pessoas foram gradualmente aceitando a realidade que lhes era mostrada todos os dias pelos meios de comunicação. Esta exposição constante levou alguns a exclamar “sensacionalismo”, muitos tinham as expectativas demasiado otimistas, com a atitude casual do “Isto passa”.
Existiram vários discursos desiguais em conversas pessoais, interações nas redes sociais, comentadores profissionais a dar a sua opinião, porém, a única coisa certa, é que toda a gente estava investida na informação, na comunicação, no diálogo ou notícias que poderiam oferecer conforto, ou manter firme o sentimento de pessimismo.
Somos um ser que não gosta de estar solitário, conectados ao nosso sentido de sobrevivência, porém é-nos exigido o contrário para a garantir.

A Contradição

A inquietação que se instalava a nível global reforçava o desejo de ouvir os factos, rapidamente 4 princípios ficaram presentes na cabeça das pessoas: Lavar as mãos, uso de máscara, distanciamento e isolamento social. Este último é ironicamente aquilo que mais queremos evitar (exceto quando a humanidade enfrenta um vírus altamente contagioso).

Apesar de ser voluntário, estudos neurocientíficos indicam que pode provocar um deterioramento da nossa saúde (Offord, 2020) (Dajose, 2018) (Clifford Singer, 2018). Filtrando o tema para a situação atual, o Isolamento social prolongado causa um aumento do medo e da agressividade, que não são emoções minimamente bem-vindas para o combate de uma pandemia, visto que é necessário agir com serenidade e certificar o cumprimento das normas de segurança. O medo é capaz de deturpar a nossa capacidade de raciocínio e consequentemente de ação, não nos permite agir com confiança.
O sentimento de solidão pode ainda afetar o nosso sistema imunitário, as nossas ações de proteção contrariam aquilo que o nosso organismo necessita para a sua defesa (Novotney, 2019).

Muitas pessoas foram obrigadas a manterem-se separadas dos seus entes queridos e enfrentar algo inédito nas suas vidas (relativamente) sozinhas.
Não seria por assistir o telejornal que alguns desafortunados iam deixar de se sentir sós, mas foi a partir daí, de outros meios de comunicação que consumiram ou de pessoas que o testemunharam, que tomaram conta dos 14 dias para, finalmente, juntarem-se com quem mais queriam.

Melhor que nada

A interação com outras pessoas é algo precioso em vários níveis, e o cidadão comum não tem a total noção da sua influência, mas sempre sentirá saudade.

Com o contacto físico fora da equação, sem o fator presencial, o que sobra para saciar o desejo de comunicar é o digital, principalmente verdade durante confinamento. Usámos métodos já familiares para nos conectar e saber o que fazer do mesmo modo, não nos ficámos, pois não queremos ficar sozinhos. Adaptamo-nos ao nosso meio e evoluímos, tal é a natureza do ser humano.

O uso das redes sociais disparou como nunca antes visto, afinal estávamos em casa e queríamos conversar. Inúmeros debates e estudos sobre os efeitos negativos das redes sociais na nossa vida, para depois se transformar num símbolo de estabilidade e sanidade para várias pessoas (Damas, 2020).

Falas tu?

Os meios de comunicação face a toda a situação, tinham uma grande responsabilidade sobre os ombros. Bem na realidade era na informação.
Similarmente às redes sociais, os sites de informação tiveram subidas consideráveis de tráfego (Bourbom, 2020).

Muitos olhos e ouvidos atentos, a SIC e o seu telejornal por exemplo, a quebrar recordes de audiência. Estes holofotes trazem um sentido de dever e obrigação enorme, afinal a causa conhece-se e num eventual erro de informação (que aconteceu), as repercussões são intensificadas devido à sensibilidade aguçada do público.
A SIC já pediu desculpa várias vezes desde que Portugal enfrenta o coronavírus, incluindo em direto no seu telejornal (SIC, 2020) (SIC, 2020) (Redação, 2020). A desinformação quanto a um tema altamente relevante é causa de revolta dos espetadores nas redes sociais e o canal, ciente da sua posição de responsabilidade, procura corresponder da melhor forma possível ao validar o protesto no seu pedido de desculpa. Com isto da comunicação “não se brinca”.

O profissionalismo de vários nomes sonantes na vertente jornalística é posto à prova e ninguém quer errar. Terão que dar a cara e não podem simplesmente refugiar-se em alguém e questionar “Falas tu?”.

“Olhos abertos precisam-se”

Estamos dependentes uns dos outros para garantir a sobrevivência do maior número de pessoas possível, sempre foi assim e escapámos de muita coisa “com conversa”. Mas por mais que uma mensagem seja constantemente transmitida de uma forma clara, o recetor nem sempre escolhe dialogar reciprocamente. Isto ainda não acabou.
Se há comunicação que prove diariamente o longo caminho que ainda nos resta, é a atualização do número de infetados e óbitos.
Todos os dias, a mesma conferência de imprensa, as mesmas bandeiras, as mesmas caras, só o número de vítimas muda.

Referências

Bourbom, M. J., 2020. Covid-19. Isolamento social faz disparar consumo de sites de informação online. [Online]
Available at: https://expresso.pt/coronavirus/2020-03-25-Covid-19.-Isolamento-social-faz-disparar-consumo-de-sites-de-informacao-online

Clifford Singer, M., 2018. Health Effects of Social Isolation and Loneliness. [Online]
Available at: https://www.aginglifecarejournal.org/health-effects-of-social-isolation-and-loneliness/

Dajose, L., 2018. How Social Isolation Transforms the Brain. [Online]
Available at: https://neurosciencenews.com/neurobiology-social-isolation-9072/

Damas, F. N. e. A. R., 2020. Casas, empresa, telemóveis. Pandemia faz disparar tráfego nas redes. [Online]
Available at: https://eco.sapo.pt/2020/04/25/casas-empresa-telemoveis-pandemia-faz-disparar-trafego-nas-redes/

Novotney, A., 2019. The risks of social isolation. [Online]
Available at: https://www.apa.org/monitor/2019/05/ce-corner-isolation

Offord, C., 2020. How Social Isolation Affects the Brain. [Online]
Available at: https://www.the-scientist.com/features/how-social-isolation-affects-the-brain-67701

Redação, 2020. Hiper FM. [Online]
Available at: https://www.hiper.fm/sic-volta-a-pedir-desculpas-por-erro-no-jornal-da-noite/

SIC, 2020. Sic Notícias. [Online]
Available at: https://sicnoticias.pt/pais/2020-03-22-SIC-reforca-pedido-de-desculpa-por-informacao-errada

SIC, 2020. Sic Notícias. [Online]
Available at: https://sicnoticias.pt/pais/2020-03-22-SIC-apresenta-desculpa

Fontes:

Pedidos de desculpa da SIC:

https://www.hiper.fm/sic-volta-a-pedir-desculpas-por-erro-no-jornal-da-noite/

https://sicnoticias.pt/pais/2020-03-22-SIC-apresenta-desculpa

https://sicnoticias.pt/pais/2020-03-22-SIC-reforca-pedido-de-desculpa-por-informacao-errada

Isolamento Social:

https://neurosciencenews.com/neurobiology-social-isolation-9072/

https://www.apa.org/monitor/2019/05/ce-corner-isolation

https://www.the-scientist.com/features/how-social-isolation-affects-the-brain-67701

https://www.aginglifecarejournal.org/health-effects-of-social-isolation-and-loneliness/

Dados de consumo:

https://eco.sapo.pt/2020/04/25/casas-empresa-telemoveis-pandemia-faz-disparar-trafego-nas-redes/

https://expresso.pt/coronavirus/2020-03-25-Covid-19.-Isolamento-social-faz-disparar-consumo-de-sites-de-informacao-online

Imagens:

1ª Imagem –  https://executivedigest.sapo.pt/viagem-ao-futuro-pos-pandemia-o-novo-normal-em-30-pontos/

https://executivedigest.sapo.pt/wp-content/uploads/2020/04/globo_planeta_coronavirus.jpg

2ª Imagem – https://www.dinheirovivo.pt/economia/dgs-ventiladores-serao-para-doentes-mais-graves/

https://www.dinheirovivo.pt/wp-content/uploads/2020/03/37176556_28441965_WEB-1060×594.jpg – ANTÓNIO COTRIM/LUSA

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