A natureza social é uma das principais características da espécie humana, assumindo-se mesmo como um aspeto fulcral na sobrevivência e na reprodução do ser humano. À semelhança do que sucede com vários animais que manifestam, em menor ou maior grau, comportamentos sociais, o cérebro humano reinventou-se e desenvolveu mecanismos dedicados à socialização e respetivas componentes que é comprovada pela existência do neocórtex (a camada do cérebro mais recente de uma perspetiva evolutiva), uma extensa camada cortical que surgiu como resposta às exigências da vida em grupo e sociedade que o Homem enfrentou ao longo da sua história.
Em oposição às emoções básicas que requerem a consciência do próprio estado somático e da forma como as emoções se manifestam no corpo, as emoções sociais, por sua vez, requerem atividade cognitiva através da representação de estados mentais de outras pessoas(Bernett et al., 2009). É por este motivo que as emoções sociais acabam por estar intimamente associadas ao conceito de cognição social, mais concretamente de empatia através da capacidade de um indivíduo imaginar e reproduzir mentalmente os estados emocionais de terceiros (Wainryb et al., 1998). Zahn-Waxler & Robinson, (1995) e Spitek et al., (1990) destacam que apenas aos 7 anos de idade, o desenvolvimento do cerebral e mental do indivíduo possibilita a descrição de situações em que as emoções sociais podem ser experienciadas.
Damásio (2010) define as emoções sociais “como estados mais discriminativos e complexos, sendo um conjunto de sentimentos mais subjetivos, incluindo emoções como a pena, a vergonha, o embaraço, a culpa, o orgulho, a inveja, a gratidão, a admiração, a indignação e o desprezo. Surgem do resultado de um relacionamento entre um comportamento e um significado emocional, que pode ser apropriado num determinado contexto, mas ilógico noutro.”
Damásio (2010) afirma que existem quatro grandes grupos de emoções sociais:
1. Indignação moral: o outro indivíduo violou normas de conduta em que a consequência é a punição e o reforçar de regras e convenções sociais. A base fisiológica para esta emoção são o nojo e a raiva;
2. Embaraço, vergonha, culpa: dá-se o reconhecimento de uma violação do comportamento executado pelo próprio indivíduo, e o resultado é o evitar de uma punição por parte dos outros, incluindo o isolamento ou o ridículo. Estas emoções visam restaurar o equilíbrio do self e o reparar do equilíbrio em relação ao grupo, bem como reforçar as regras e convenções sociais. A base fisiológica são o medo ou a tristeza;
3. Simpatia, compaixão: há um reconhecimento automático do sofrimento do outro indivíduo e a consequência é o conforto e o restauro do equilíbrio do outro indivíduo, sendo a tristeza a sua raiz;
4. Espanto (no sentido da maravilha): está relacionado com o reconhecer de que alguém teve uma contribuição notável para a cooperação, conduzindo a um reforço da tendência para o altruísmo e para a rejeição do egoísmo, sendo que a base desta emoção encontra-se na alegria.
©PsicoSoma 2016
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Referências bibliográficas
Bernett, S., Bird, G., Moll, J., Frith, C. & Blakemore, S. J. (2009). Development during Adolescence of the Neural Processing of Social Emotion. Journal of Cognitive Neuroscience, 21, 9;
Damásio, A. (2010). O Livro da Consciência: A Construção do Cérebro Consciente. Círculo de Leitores;
Wainryb, C., Shaw, L. A., & Maianu, C. (1998). Tolerance and intolerance: Children’s and adolescents’ judgments of dissenting beliefs, speech, persons, and conduct. Child Development, 69(6), 1541−1555;
Zahn-Waxler, C. & Robinson, J. (1995). Empathy and guilt: early origins of feelings of responsibility. In Self-Conscious Emotions. Tangney, J. P. & Fischer, K. W. New York, Guilford;