Contributos da Neurociência na Formação

Contributos da Neurociência na Formação

Num mundo cada vez hiperconectado, onde as sociedades são cada mais designadas como VUCA, o processo de aprendizagem é cada vez mais complexo e alvo de elementos dinâmicos e estranhos que acabam por desafiar tanto Facilitadores como Formandos. 

O ser humano é dotado de neuroplasticidade, o que permite a capacidade contínua de mudança do cérebro e na reorganização dos neurónios, que são influenciados por mudanças sociais, ambientais, experimentais, físicas e lesões graves. A título de curiosidade, e de modo a entender melhor a neuroplasticidade, é necessário analisar mais profundamente o sistema nervoso do ser humano. Com base num estudo feito em macacos, realizado por Michael Merzenich, neurocientista norte-americano (Califórnia), foi demonstrado que uma lesão grave, como a amputação de um um dedo, causa atrofia dos neurónios responsáveis pela região amputada. No entanto, posteriormente, os neurónios encarregues do dedo do lado, acabavam por assumir as funções.

Desta forma, podemos compreender que todos nós aprendemos até ao final da nossa vida, por isso os vossos formandos também 🙂

É então o desafio para os Facilitadores de TOPO apresentar e trabalhar o conhecimento e competências num formato em que o cérebro aprenda melhor, mais rápido e seja capaz de reter a mesma. Promover uma aprendizagem significativa tem como substrato biológico a reorganização das conexões entre os neurônios, a neurogênese e a aplicação ampla do conceito de neuroplasticidade.” (Oliveira, 2014)

Como aprende o cérebro ?

O cérebro é um dos órgãos mais fascinantes do corpo humano, sendo o responsável por comandar o nosso sistema, através de memórias, pensamentos, ações, linguagem, sentimentos, entre outros elementos. A mente humana continua a ser, em parte, um mistério, que é constantemente alvo de estudos, de modo a tentar perceber melhor como esta funciona.

Oliveira (2014) refere que “o que se tem comprovado é que, entre o nascimento e a adolescência, novos neurónios serão acrescentados ao cérebro, novos circuitos neuronais serão construídos em consequência da interação com o ambiente e da estimulação adequada. Este processo desacelera no adulto, mas não é interrompido durante toda a vida, sendo conhecido como neuroplasticidade.”

Apesar da sua complexidade, o cérebro é responsável por várias e diferentes funções, tais como, sentir, ver, respirar, raciocinar e movimentar. Este vai sendo treinado ao longo da vida e vai aprendendo através de exercícios, experiências, interesse, curiosidade, motivação e repetição.

Os Sentidos e a sua importância na aprendizagem do adulto 

Os cincos sentidos (mais amplamente validados), visão, audição, tacto, olfato e paladar, no processo de aprendizagem têm um papel fulcral, sendo eles os responsáveis por estimularem o cérebro.

A visão é o sentido mais importante neste processo, seguido da audição, sendo estes os principais canais de acesso à informação. No entanto, cada sentido tem a sua relevância, podendo cada um deles ser estimulado de forma diferente, contribuindo para uma melhor aprendizagem.

Atividades ou dinâmicas que tenham como objetivo a estimulação dos sentidos, são um bom método para estimular a inteligência e a criatividade dos formandos. Até porque, as pessoas (crianças e adultos) aprendem melhor quando a informação que estão a receber é processada por mais de um sentido ao mesmo tempo (por exemplo, audição e visão em simultâneo. 

O estimulo sensorial contribui para o desenvolvimento linguístico, cognitivo, social e emocional.

O que considerar na relação Neurociência na Aprendizagem

O formando como ser Social

A natureza social é uma das principais características da espécie humana, assumindo-se mesmo como um aspeto fulcral na sobrevivência e na reprodução do ser humano. À semelhança do que sucede com vários animais que manifestam, em menor ou maior grau, comportamentos sociais, o cérebro humano reinventou-se e desenvolveu mecanismos dedicados à socialização e respetivas componentes que é comprovada pela existência do neocórtex (a camada do cérebro mais recente de uma perspetiva evolutiva), uma extensa camada cortical que surgiu como resposta às exigências da vida em grupo e sociedade que o Homem enfrentou ao longo da sua história.

Damásio (2010) define as emoções sociais “como estados mais discriminativos e complexos, sendo um conjunto de sentimentos mais subjetivos, incluindo emoções como a pena, a vergonha, o embaraço, a culpa, o orgulho, a inveja, a gratidão, a admiração, a indignação e o desprezo. Surgem do resultado de um relacionamento entre um comportamento e um significado emocional, que pode ser apropriado num determinado contexto, mas ilógico noutro.”

Dica Emoções Sociais: Permitir momentos de apresentação pessoal face ao grupo, momentos com recurso a Dinâmicas de Grupo, criar jogos de consolidação pedagógica, abrir momentos de partilha fora do horário da sala (lanches, pausas para café…). 

Emoção

A emoção é uma das bases do ser humano e a inteligência humana está conectada a esta, pois a primeira interfere diretamente na segunda, através da cognição. O nível de emoção é responsável pelo nível de memória, quanto mais emoção uma situação tem, mais facilmente a pessoa irá se lembrar dela. Em contexto de formação, é um aspeto importante para o desenvolvimento intelectual e que permite aos formadores perceber de que forma os formandos estes estão a ser instigados.

Dica Emoção: Diversificar de recursos é permitir um processo de aprendizagem mais confortável aos formandos, podendo esses serem mais cinestésicos, visuais ou auditivos. É assim importante a mescla de recursos mais tradicionais ou disruptivos, como Lego, Playmobil, Plasticina, Flash Cards, Mapas Mentais, visualização de Séries, Músicas ou ainda Jogos de Consolas. A juntar a tudo isso é indispensável: Boa disposição e Energia do Facilitador – Comportamento gera Comportamento. 

Motivação

A motivação é uma das chaves de sucesso para a aprendizagem, o formando quando se sente motivado, a atenção deste é automaticamente mobilizada. Se o conteúdo for aborrecido, desinteressante, interfere no sucesso da aprendizagem, o formando fica mais desmotivado. Para combater esta tendência, é fulcral que se disponibilizem conteúdos estimulantes e que se realizem atividades dinâmicas/criativas que gerem o factor motivação nos formandos.

Dica Motivação: Valorizar a partilha das experiências dos formandos irá permitir ao facilitador criar elos de ligação ao longo da formação, aumentando o sentimento de pertença dos formandos. É ainda importante projetar usabilidade nos casos que são trazidos e nos conteúdos que são trabalhados, procurando sempre a ligação entre Saber e Competência. 

Atenção

A atenção está ligada ao ponto anterior, a motivação, e é essencial de forma a que o conhecimento seja adquirido, porque o cérebro só adquire informação, quando a pessoa está atenta. A falta de atenção pode ser causada por dois fatores: falta de disciplina ou falta de estímulo/interesse.

“No decorrer do processo de desenvolvimento, a atenção passa de automática para dirigida, sendo orientada de forma intencional e estreitamente relacionada com o pensamento. Ou seja, ela sofre influência dos símbolos de um meio cultural, que acaba por orientá-la. Atenção e memória se desenvolvem de modo interdependente, num processo de progressiva intelectualização.” Vygotsky 

Dica Atenção: Conseguir a atenção é hoje um desafio enorme, sugerimos ciclos curtos de abordagem aos temas, de 20 a 25 minutos (ver Técnica do Pomodoro), uma pausa de 5 minutos e retomar a outro ciclo. Para despertar a curiosidade e prender a atenção sugerimos o site https://curious.com/ onde pode aprender algo em 5, 15 ou 30 minutos todos os dias. 

Memória

A memória dá-se através do processo de repetição, ou seja, a pessoa memoriza uma informação , criando assim pontos de ancoragem. As memórias não surgem apenas durante o processamento de informações, pois ocorrem também através de experiências, por exemplo, quando um determinado conteúdo afeta de alguma informação. A repetição da informação contribui também para a criação de memórias.

Dica de Memória: escrever é ainda um aspecto interessante que consolida a memória, por isso o uso de papel e atividades em papel, como Mapas Mentais, Flash Card ou ainda Esquemas são de elevada importância. Utilizar acrônimos, são palavras formadas por letras que representam, por sua vez, outras palavras. A ferramenta de gestão CHA (Conhecimento, Habilidade e Atitude) é um exemplo. Criar ligações (flexibilidade cognitiva), quanto mais ligações o formando realizar entre os seus conhecimentos prévios, mais facilmente irá memorizar uma novidade, (Make It Stick: The Science Of Successful Learning, Peter Brown, Henry Roediger e Mark McDaniel). 

©PsicoSoma 2019

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