Educação e Economia comportamental

Educação e Economia comportamental

O atual contexto vivido, exige mais do que nunca uma visão sistémica dos modelos pedagógicos, onde a integração de conceitos como a Aprendizagem 4.0, a Humanização do Digital, os recursos didáticos e digitais ou ainda as plataformas precisam de ser desenhado centrados no aprendiz.

Olhar para a Educação com base nos vieses da Economia Comportamental pode trazer um suporte sobre decisões, comportamentos e até recompensas a oferecer a quem articular e receber conhecimentos.

A Economia Comportamental surge como uma linha de investigação científica que interfere com duas “ciências”, a psicologia e a economia. Vários foram os profissionais que nos últimos dois séculos debruçaram as suas investigações nas duas áreas, visando entender as ligações ou afastamentos.

Esta lógica de pensamento é fundamentada pelo pensamento da Teoria Da Escolha Racional Económica, ou seja, baseada na figura máxima do Homo Economicus, que apontava que o comportamento e as decisões de cariz económico refletiam a racionalidade do ser humano, onde a maximização dos ganhos e a minimização dos riscos/perdas são as características dominantes.

O trabalho desenvolvido por diversos psicólogos ao longo do século passado permitiu a identificação de mais de uma centena de vieses cognitivos que contrariam o modelo do Homo Economicus. Aos poucos, a ideia de que o uso da racionalidade nas decisões (todas elas, mas em especial nas decisões económicas e de consumo) era regra comum foi sendo dissipada por um conjunto de estudos que atribuíam a fatores de ordem emocional, afetiva e social a principal influência nas decisões. Afinal a racionalidade não era ilimitada, a nossa capacidade de processamento de informação é limitada e a maior parte das vezes desconhecemos grande parte das opções de escolha. 

A Hipótese do Marcador Somático, proposta pelo cientista português António Damásio, é um exemplo elucidativo da contribuição da informação emocional para os processos de tomada de decisão. Em traços gerais, a teoria postula que perante escolhas complexas e conflituantes, por forma a não sobrecarregar os mecanismos de processamento cognitivo, recorremos às emoções, na forma de marcadores somáticos (que mais não são que sinalizações emocionais criadas a partir das nossas vivências e experiências), para tomar decisões.

“Afinal, um ser plenamente racional seria completa,
e ironicamente, disfuncional”.

A Economia Comportamental emergiu para disponibilizar fundamentos científicos para explicar as anomalias verificadas no comportamento económico, explicando as decisões e comportamentos económicos através da integração dos fatores sociais, cognitivos e emocionais (Ariely, 2008; Kahneman, 2003; Camerer & Loewenstein, 2002).Um dos principais e mais antigos princípios da economia comportamental é a Teoria dos Prospetos (Kahneman & Tversky, 1979), que surge exatamente como um contra-argumento em relação à teoria da Utilidade Esperada. Segundo a Teoria dos Prospetos, tomamos decisões baseados em mudanças de riqueza a partir de um ponto de referência, em vez de partirmos do todo. Na prática, partindo de um momento em que no bolso temos 0 euros nos derem, por exemplo, 50 euros, existe uma mudança de riqueza positiva e esse passará a ser o nosso ponto de referência (que antes era 0, e agora 50). Se seguidamente nos tirarem 5 euros, sentimos uma perda, partindo do novo ponto de referência, ao invés de considerarmos o ganho de 45 euros face à situação inicial. Para Ariely (2008), existem alguns traços que podemos identificar no comportamento humano à luz da Economia Comportamental, como:

  • As pessoas decidem com base em hábitos, experiência pessoal e regras práticas simplificadas. 
  • Aceitam soluções apenas satisfatórias 
  • Buscam rapidez no processo decisório
  • Dificuldade em equilibrar interesses de curto e longo prazo 
  • Influenciadas por fatores emocionais e pelos comportamentos dos outros.

Vamos visitar alguns vieses da Economia Comportamental e compreender a sua relação com o processo de ensino aprendizagem.Aversão à PerdaUm dos vieses da EC, a  Aversão à Perda é componente com interesse para o estudo do substrato neurocientífico das decisões e contexto económico. Um estudo conduzido por De Martino et al., (2010) revelou que sujeitos com a amígdala danificada deixavam de ter aversão à perda, isto apesar de continuarem a ter níveis normais de aversão ao risco geral, sugerindo que esse tipo de comportamento era apenas específico quando se tratava de perdas potenciais.” Na educação, demonstrar o que o aluno pode perder por não se envolver na atividade ou no projeto, pode funcionar como elemento de motivação.

Prova Social

Existe a necessidade humana de socializar, a condição humana de base, fomentando a organização em grupos sociais. Esse fenómeno pode ser integrado no processo e trajetória educacional do aluno. As dinâmicas de grupo, o aluno-mentor de terceiro, a criação de conteúdos em parceria com o professor podem promover essa mesma condição. Na criação de grupo é importante considerar que alguns alunos, que por exemplo, dão mais importância à diversão, irão influenciar outros na procura do prazer a curto prazo e afastar os mesmos dos benefícios do futuro.

Efeito Manada

Esse efeito é evidente quando as pessoas fazem o que os outros estão a fazer, afastam as próprias informações, análises ou conclusões, acabando por assumir o comportamento com base em decisões de terceiros. No processo de aprendizagem, ao identificar os elementos influenciadores da turma, será, em alguns casos, possível criar um efeito manada em torno de um objetivo predefinido no processo. Não será o professor a levar até, mas sim o colega, e sem a perceção de tal por parte dos alunos.

A Âncoragem 

As decisões são frequentemente orientadas e influenciadas por âncoras, que dão um ponto de partida para basear a decisão final. A primeira informação que se tem sobre algo é a âncora principal, e isso influencia a forma como se envolve após esse momento. Certas palavras como o Não, Sala, Professor, Talvez, Problema irão criar âncoras negativas no discurso e consequentemente na predisposição dos alunos. Lembre-se que as palavras que usam constroem o seu mindset e a forma como é percebido – imagem. 

Saiba mais sobre a economia comportamental e todas as áreas de estudo da neuroeconomia e neurociência, no livro Psicosoma “Princípios de Neuromarketing: Neurociência Cognitiva Aplicada ao Consumo, Espaços e Design”.

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Bibliografia

  • Livro Psicosoma “Princípios de Neuromarketing: Neurociência Cognitiva Aplicada ao Consumo, Espaços e Design”

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